[Esses dias recebi um email de um moço que eu nem conheço direito. E nele, o tal moço veio falar sobre essa minha discrepância em escrever demais, coisas demais e sempre sempre falar de mim em terceira pessoa. E assim o que seria um email pessoal, depois de repensando, passou a ser público.]
Olha moço, eu falo de mim porque eu sou a coisa que conheço melhor. Eu falo de mim porque descobri que meu coração não é maior que o mundo como sempre acreditei, é muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores, nem os meus amores por isso gosto tanto de me contar, por isso me dispo, por isso me grito. E só mesmo parafraseando Frida Kahlo e Drummond pra me fazer entender. Ou não.
E ele usou essa palavra: discrepância. Não sei se concordo, mas acho que não devo discutir sobre uma opinião pessoal que não é a minha.
Eu me contradigo? Pois bem! Eu me contradigo. Sou vasta.
Contenho multidões. Mas é complicado esse negócio de falar contigo, comigo e com os outros ao mesmo tempo. Eu fico em dúvida sobre qual pessoa devo usar.
Mas o que isso mesmo te interessa??
Acontece, moço, que eu não costumo pensar antes de escrever. Então eu vou escrevendo escrevendo escrevendo e as linhas vão tomando vida própria, ocupando o espaço em branco que por ser vazio já é um afronto e um pedido louco: me preenche, me preenche, me preenche.
Porque eu não gosto de vazio.
Sim!Eu sofro de excessos, sofro de compulsões, mas é um sofrer lúdico que me liberta e assim é em vários aspectos. Eu escrevo muito a ponto de fazer criar calo nos punhos, mas isso só nos meus dias tepeemicos, onde a ansiedade e outras sensações que não sei definir não conseguem ser acalmadas nem com chocolate, nem com incenso, nem com meditação, nem nada.
Eu não sei guardar coisas pra depois.
Se ganho chocolates eu como todos de uma vez só. Se eu posso ter agora eu não deixo pra outro dia. Em quase tudo, quase sempre.
Escrever é uma dessas compulsões e eu prometo que um dia aprendo. Prometo que um dia vou saber pontuar e usar todas as regras gramaticais. Prometo que não vou pontuar minhas palavras apenas de acordo com meu pensamento. Mas prometo pra mim. Eu até lhe agradeço pela sugestão crítica, mas a verdade é que eu escrevo pra mim. Pra me libertar, entende?
As pessoas precisam externar sentimentos. Tem gente que fala, tem gente que canta, tem gente que grita, tem gente que se droga, tem gente que toca violão. E eu? Bem, entre outras coisas eu escrevo, já que o falar me é ainda mais falho. E só me dou conta que escrevi demais, coisas demais e que não deveria quando já está feito, aí é tarde. Por que eu não gosto de apagar... Não sou desse tipo histérico de gente que rasga palavras, que joga fora sentimentos escritos, guardo comigo, guardo tudo comigo. Ao menos o que não é perdido entre velhos livros e cadernos e guardanapos de mesa de bar.
E “coisas” pode ser entendido num sentido bem amplo se eu acrescentar outros contextos aqui, mas eu não quero me estender agora.
Nem quero te fazer me entender, moço.
[Não hoje.]
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