segunda-feira, 9 de março de 2009

.:Manuscrito de uma Colombina.:



(...)


Talvez éramos a busca.Ou a procura pela soma de duas metades que se completassem e que não fossem a divisão de lados opostos...

Eu era a voz que ecoava nas ladeiras, tu eras a voz que ecoava nos meus sonhos mais ermos.
Eramos a incerteza e a dúvida que pairava no ar como bolhas de sabão, como o brilho falso do esmalte úmido nas unhas.Ou as máscaras que cobriam o carnaval.
Tu era a peça que deixava a platéia sem reação. Eu eras o verbo que deixava no palco sem conjugação.
Fomos a aurora de dias guardados a sete chaves e encerrávamos nossos dias com espetáculo que poderia deixar eles boquiaberto.
E sem saber.

Sem saber, fui conjugar os verbos que ouvia você dizer. E sem querer, errei os pronomes e não soube flexionar os tempos dos teus verbos.
Para mim, era o hoje – embora quisesse que tu foste o amanhã!
Quis te conjugar no presente como quem pressente o que virá.
Pela porta entreaberta, pelas frestas da janela - suas verdades descobertas.

E toda aquela dúvida, aquela angústia que me cabia - coube dentro da caixa da coragem.
Assim, enquadradas no meu silêncio, pude dizer as palavras que eu não sabia que queriam ser ditas.
Olhei nos teus olhos e não precisei verbalizar aquilo que você enxergou nos meus.
Não precisei me desculpar pelas palavras que não disse, porque você consegue ler nos meus olhos o que não consigo te dizer.
Como se você sempre soubesse o que eu queria esconder e o que queria mostrar.
Você soube quais eram as palavras, as cenas, meus atos falhos e acertos escassos.
De fato, o certo é o que você me acerta.
E no carnaval sem máscaras coloridas, eu vi a dança dos pagãos numa avenida.
Mas aquelas cores falsas não me apetecem.Não mais...
Nem o brilho fictício de uma glória sem nenhum orgulho...daqueles desprovidos de coragem.
E enquanto todos eles dançavam aquele samba com os pés no chão, eu bailava um frevo pelo céu.
E ríamos de toda certeza que um dia foi dúvida.
Quando o abraço apertado se tornou algo público e sentimentos foram gritados pra quem quisesse ouvir,
Não havia mais preocupação com verbos, concordâncias ou acentuações.
Éramos reticências, heróis de uma epopéia que dispensava narrativas.
E se amanhã,tu não estiver aqui, todas as minhas palavras são serestas.
Não sei mais prozodiar desalentos e aprendi a sorver o mel das palavras que eram um azedume.
Eu não sei de nada, mas canto as palavras que eu quero que você escute.

Éramos a pose, a máscara caída,o sorriso no retrato que traz um pedaço de alegria num pedacinho colorido de papel.
Será? Seremos?
Seremos o que nunca fomos pra esquecer quem éramos.
Seremos uma saudade.
Aquela saudade refletida em um prisma - uma em cada face diferente, mas que no final, são todas iguais.
Quando compreendi que o silêncio não é angústia, senti o vento ecoar o som da tua risada.
E sorri pensando que essa tristeza- com ar de quarta de cinzas- até que é bem alegre.
Se éramos uma busca, porque não sermos hoje a espera?
Na espera para que você entenda as palavras desse manuscrito mal traçado, com essas letras garranchadas.
Limpo a avenida cheia de confetes...para que você saiba o que eu disse e você não ouviu, mas poderias ler...




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