sexta-feira, 3 de abril de 2009
:: Águas de março ::
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...quando o vejo ao portão de casa, à minha espera...
E mal eu paro, ele apressa-se em fugir para dentro do carro.
Faz o mesmo sorriso de sempre,mas sempre inovado e diferente um do outro.
Dá-me um beijo no rosto olhando-me nos olhos...e começa a desbobinar as mil novidades que tem sempre por contar.
Fico a ouvi-lo e deixo-me enternecer pela forma como me diz, com o mesmo sorriso da chegada...
Já nem sei se acredito no amor entre os homens...quer dizer,na verdade...não me questiono mais sobre ele (seria apenas um interesse carnal, num aconchego de almas?), mas deixo inebriar-me,porque, afinal, é isso que me faz acalentar o espírito...
Olho-o com atenção e vejo-o, agora, maior que eu. Tornou-se, quase sem eu dar conta,o sorriso fácil que sai de mim...
Vamos a um bar qualquer e ele bebe do meu copo. Fala aos outros de assuntos que eu já o ouvi falar há uma semana atrás, mas acrescenta sempre algum pormenor esquecido, o que lhe torna o discurso meio aliciante.
Traz uma indiferença para com o mundo exterior pregada à pele e, ao mesmo tempo, uma simpatia e curiosidade insólita para quem se aproxima do nosso.
Fixo-o e não consigo perceber há quantas noites não dorme o suficiente ou se passou o dia inteiro trabalhando.
Parece que, às vezes, vive num estado de embriaguez que dá vontade de nos embriagarmos, nós próprios, nele.
As minhas noites são sempre mais protegidas quando o tenho ao meu lado, porque se me der para fugir, sei que ele não fica preso ao chão, a ver-me afastar.
E porque temos sempre uma praia,uma janela...ou algo qualquer juntos. Se não a tivermos logo ali, encontramos sempre, nem que seja só de manhã...
E entre os acordes duma música qualquer, acabamos deitados na areia ou mesmo ao chão a falar de coisas sem nexo. E eu não preciso de mais nada, um céu estrelado ou um amanhecer...bastam-me.
Nem fotografias temos - o meu olhar fotográfico vale muito mais; não desfigura nem banaliza os ambientes.
Mas isto é como ele me dizer a sorrir:hey, vamos ao castelo!
Desaparecemos de mãos dadas e quando nos voltam a encontrar, costumamos estar perdidos, a afogar numa garrafa qualquer, o nosso cansaço da busca e a nossa satisfação de termos encontrado um castelo de vontades...
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