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Menina boba. Apenas, menina boba. Menina boba com um nariz de palhaço. Menina boba. Quando criança ruborizava quando tinha de responder a chamada. Não falava em público, quase não falava. Sua brincadeira favorita eram os livros. Sonhava com as histórias e com os personagens que nunca seria. Fantasiava ela mesma, fantasiava um final feliz. Porque todos os contos de fadas têm um final feliz. Gostava da história do Patinho Feio. Ainda existia uma esperança. Menina magrinha, tímida, franjinha e nariz de palhaço, era ela. E o sonho de virar cisne, persistia na sua cabeça, fantasiava um final feliz. Ninguém ouvia suas lágrimas que caíam silenciosas pelo tapete do quarto. Ninguém, talvez ninguém a conhecesse de verdade e não soubessem quem era ela. A menina virou cisne, virou popular, começou a chamar a atenção das pessoas, conheceu príncipes que logo após se tornaram sapos e sapos que nunca se tornaram príncipes. Conheceu madrastas, anões, fadas madrinhas e dragões, mas a menina não era uma princesa. E a menina chorava. Chorava porque contos de fadas não existem e no final ela nunca tinha deixado de ser a menina boba com nariz de palhaço. Chorava porque junto com os contos de fadas, finais felizes também não existem, não sempre. Chorava porque de princesa, passou a ser o bobo da corte. Contos de fadas realmente não existem. E as lágrimas ainda caem no tapete.
E talvez ainda não a conheçam de verdade.
Ou conhecem?
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