terça-feira, 8 de abril de 2008


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Entrou devagar para não se assustar.
Seu corpo era apenas sombra.E na escuridão de dentro, se viu cega.
Tateou.
Por instantes, percebeu em si mesma o silêncio da respiração.
Umidade e visco na palma da mão.
Como evitar a vontade de estar bem longe dali?

Porque não era fácil...Não para ela...
Estar em um lugar aparentemente conhecido, falsamente decifrado.
Sim.Do lado de dentro!

O tempo levou o breu embora e os olhos já enxergavam cortes, secreções e
um lodo vermelho sob seus pés descalços...
E lá estava a dona-bomba,pulsando...na velocidade de um tic-tac-oco-ecoado
e denso, um tambor, remadas compassadas de escravos
confinados em um navio negreiro.

E ela.Diante daquilo tudo, dentro daquilo tudo...
Queria descobrir o sentido de ser assim tão como era, queria entender,
se retorcer e se trazer de volta.
Doía.Tudo nela doía.
E aquela dor, aquela angústia, aquela batida, aquele calor, reverberou em si
o mais terrível grito de todos... e gritou...até que não havia mais nada nela e tudo ficou ali, boiando na sua frente...

Esvaziada, se encheu.Havia algo dentro agora...

Bem perto daquela máquina sangrenta tic-tac-ando na sua cara tudo que ela havia gritado.
Saiu correndo, de dentro,não olhou para trás,com medo de se arrepender...


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