sábado, 22 de novembro de 2008

[perdas e ganhos, aquarela, janelas e bolhas imagináveis... ]

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Pensei na vida. Em minha vida.
Nas frestas de luz que entram pela porta cortando o escuro da noite, no som dos despertadores pela manhã, nos quarenta minutos indispostos após o despertar, nos balões de ar que se perdem no céu antes de alcançar a estratosfera, nas bolhas de sabão que estouram no ar antes que se termine de admirá-las, nos gerânios que ainda faltam no meu jardim e que são bonitos para nada, nas amoras, nos amores, nos brinquedos da infância, na infância: saia plissada, bochechas e joelhos sobressalentes.
Hoje tudo se mistura. Naquela época tudo me comovia: a soma dos números da placa de um carro, um pássaro engaiolado, o barulho da moto do entregador de pizza, um quadro torto na parede, uma estrela no céu, as nuvens opacas do final da tarde, uma boneca com a perna quebrada. Tudo. Minha vida é uma colagem.
Pensei nas vitórias. Nas minhas vitórias cotidianas, nas minhas perdas, nas escolhas e no que ficou pra trás. Nostalgia. Possibilidades. -Aonde você vai estar daqui a dez anos? – Por quê? – Porque é exatamente aonde eu gostaria de estar!.
Finais. Telas em branco, cadernos vazios, canetas, pincéis, aquarela e nanquim. Todos os medos. Tudo o que eu poderia ter libertado. Paredes, concreto, bolhas imaginárias de proteção de onde eu podia observar o mundo e permanecer imune a ele. Poderia ter me libertado das minhas próprias paredes há tempos.
Já experimentei de tudo. Ou quase. Dependendo do que “tudo” possa significar. Alegria, raiva,medo. Intensamente feliz, extremamente triste. Mas não o suficiente. Nunca o suficiente. Será que existe alegria suficiente? Será que há um limiar onde a felicidade convence? O fim de qualquer tristeza não justifica a tristeza. Sofrer é sólido. Não se perde no céu, não estoura no ar. Pensar demais é inútil. O mundo fora de nossas cabeças pode ser bem mais divertido.

Que tola eu sou...tão boba e tão frágil, tão forte, tão simples e absoluta. Tenho vários animais de pelúcia, não tenho medo da morte, meus animais de estimação cativam minha estima, ainda tenho medo da vida, do que se vai e do que fica (e do) para sempre.
Que tipo de pessoa eu sou? Não consigo explicar o que sinto nem a mim mesmo e por isso o que sinto é –quase- sempre tão bonito. Ainda não consigo compreender meus finais. Nem os inícios. E essa catraca que é a vida da gente.

Tantas pessoas que entram e tantas pessoas que saem. É preciso manter a porta aberta pra que elas entrem. É preciso manter a porta aberta pra que elas saiam. Minha casa vai ter sete janelas.

Pensei na vida. Em minha vida. E na falta que sinto do que já tenho.

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"Eu já me acostumei a esquecer tudo que vai..."




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