Voltei ao quarto.
Retornei ao espaço que me atormentava e que antes me protegia. Retornei ao lugar que se resumia à minha vida.
Fui recebida como se eu nunca houvera partido, contudo sinto-me uma estranha.
Dirijo-me à janela. Ouço um ruído atrás de mim.
O som da porta do cárcere a fechar.
Alguém a fechou. Volto-me e revejo-me.
Sinto-me visitada por mim mesma. Como se me pudesse ver após ter saído do meu corpo.
O seu olhar é gélido. O seu olhar é reprovador. O seu olhar que afinal é o meu olhar...
No violento silêncio das suas palavras, desvendo uma pergunta:
- Agora que voltaste porque partiste?
A perturbação condiciona-me e não consigo responder.
Nem eu própria conheço a resposta. Passados breves segundos respondo:
-Voltei! Apenas sei que regressei.
Sem proferir qualquer palavra, o diálogo flui:
-"Quem parte de um lugar tão pequeno, mesmo que volte, nunca retorna."
-Alguma vez me perdoarás por ter partido?- questiono.
Assinado o ar mistício, ele devolve-me a pergunta:
-De que adianta perdoar se não somos capazes de esquecer?
Sinto-me desprotegida perante a mim própria. Ele vira-me a costas e dirige-se para a porta. Sem me olhar nos olhos continua:
-Perdoar é só um código fonético. Nada mais do que isso. Perdoar é somente uma qualquer palavra. Como todas as outras. Vazia.
Remeto-me ao silêncio. Antes de fechar a porta profere em tom de despedida:
-Perdoa-me se tu o conseguires fazer.
Ouço a porta a fechar-se. A porta está novamente fechada.
Novamente sozinha no quarto...eu pensava:
-"Como é difícil perdoar quem trai a si mesmo..."
.
[E que suas (des)pretensões não cruzem os meus caminhos
Enquanto eu tiver meus olhos fechados no travesseiro...e desarmada]
*