sábado, 30 de janeiro de 2010

.: Das buscas .:


Mais uma vez assistindo "CLOSER - Perto demais". E veio a lembrança um poema chamado "Salvação", de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz:
"Nenhuma pessoa é lugar de repouso".
Volta e meia este verso persegue a sua cabeça, e ele caiu como uma luva para a história que ela sozinha assistia deitada em seu tapete...acompanhada da dúvida se ligaria ou não para ele.
A história em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida.
É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída - o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso.

Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a lhe oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade - nada foi feito pra durar.
Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que ela vê tudo isso e sente um gosto amargo na boca.

Com o tempo, se tornou uma pessoa madura.Tenta aprender a lidar com as perdas e já não tem tantas ilusões. Sabe que não irá encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as suas expectativas afetivas,intelectuais e sexuais.E os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida.
Que bom, que maravilha, então deveria sofrer menos, não?
O problema é que ela não é tão madura a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda a dói trocar o romantismo pelo ceticismo.Ainda guarda resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente com ela, seduzindo-a com propostas tipo "leve dois, pague um".
Também lhe parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme sua histeria e a faça interromper as buscas.

Não é pela ansiedade que ela mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café...
Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso...
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[Tim-tim!
Um brinde a mim.
Aos tombom e as diversas formas de seguir me frente!]
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