domingo, 28 de março de 2010

.:. Efeito EstAfa .:.


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Não satisfeita em ser totalmente arranhada por dentro, como um muro velho cheio de rêbocos e emendos,ainda assim, mantinha uma estranha mania de se pintar por fora:
Desenhos imperecíveis na parte externa do corpo que falavam de uma época.Cada qual com o seu significado...cores e razões.



E quantos aos arranhões que,uma vez estando internamente, ficavam protegidos de agentes externos, que,possivelmente iriam causar mais dor e agonia, agora apareciam a olho nu.

Vez ou outra, ela insiste em se arranhar.
Ela mesma. Numa metáfora simples:esperava suas unhas estarem grandes o suficiente para causar o estrago previamente super calculado, e o fazia.
O fazia como quem sabe o que está fazendo, como quem se machuca sabendo que o faz e, pior, porque o faz.
Como se ela fosse auto-destrutiva.
Era a única resposta.

Como se primeiro fosse arranhar um braço.Depois o outro.
O rosto.
Não, não, o rosto não!
Agora não.
As lágrimas vão fazer arder mais ainda.
(Precisa sofrer mais para poder aguentar essa ardência.)

Agora tem que ser as pernas. Aí, sim, vai para o rosto. Porque aí, não vai restar mais nada:
tudo já vai estar arranhado, sem chance de sobrar algum lugar limpo, sem
dor, sem marcas.

E, só assim, eu vou saber que está tudo acabado. Porque, quando já não se sabe para onde ir ou se deve ir ou ficar, ou que se fazer, é chegado o fim.
Não é assim que te ensinam?
Pelo menos foi assim que me ensinaram.
E foi a única coisa que aprendi.
Simples assim:
como dois mais dois são quatro.

Ela repetia em tom ameaçador, enquanto fazia o que tinha que ser feito:
- Não se perca de si mesma.

E assim, ia seguindo.
Era só o tempo das feridas criarem casquinhas, aí ela vinha e fazia tudo denovo.

Ciclo vicioso.

Passou muito tempo da vida fazendo e refazendo isso, até que um dia, parou de se arranhar, mas continuava repetindo a mesma frase de sempre:
- Não se perca de si mesma.

(Tinha se perdido dela mesma; pelo menos por enquanto. )





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[" Há algo que jamais se esclareceu :
onde foi exatamente que larguei naquele dia mesmo o leão
que sempre cavalguei...?"]

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