domingo, 23 de maio de 2010

[Presente,Pretérita e Futura]







Sem explicação, ordem e motivo, me arde uma alegria, que não aceita ser felicidade, porque a felicidade é uma palavra muito longa e a alegria tem pressa.
Não sei se é uma alegria herdada, uma alegria que esbarrou em mim e que me salvou de ter pensado demais para devolvê-la.
Uma alegria que é muscular, como se o ar fosse uma guitarra encordoando o ar, e houvesse um amor me pedindo para falar baixo nos ouvidos ou uma criança me chamando pelo apelido.

Uma alegria sem dono.A não ser, eu mesma.
Uma alegria de deitar na grama e sentir que está molhada e não se importar com a roupa suja e não se importar com a hora e com os modos, uma alegria que é inocência, mas sem culpa para acabá-la.
Uma alegria que é descobrir os objetos no escuro. Uma alegria repentina, que me faz entortar o rosto para rir, que não me faz pôr a mão na boca com medo dos dentes, que me impede de me proteger.
Uma alegria de ficar como os anjos e suas asas pesadas como duas montanhas nas costas...Uma alegria de barca, que é empurrada ao seu início. Uma alegria de perceber que quanto mais gasto o tempo com os outros mais sobra para mim.
Alegria de vida barata e da morte cara.
Uma alegria sem saber para que serve, para onde vai...
Uma alegria que não volta para a estante porque não saiu de nenhum livro lido.
Uma alegria que se antecipa e faz sala ao quarto.
E quase me faz acreditar que sou possível.






["Porque hoje eu vou fazer, ao meu jeito eu vou fazer...
um samba sobre o infinito..."

.:. Amelie .:.





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-" Então, minha querida Amélie, não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus."


(Amelie e o homem de vidro num trecho de O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAN-




[Mas a verdade é que tenho mesmo:
olhos brilhantes, essa força e essa fraqueza...
e batidas desordenadas do coração.]
*

sábado, 15 de maio de 2010

.: [Vuner]habilidade .:




E mesmo não querendo,devendo não querer,não sabendo...
Sentou ao meu lado e mesmo sem querer,sem saber, com palavras, nos falamos um pouco um para o outro, assim mesmo.
Os nossos olhos se encontraram mais uma vez até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor...sem rancor.
Sentou-se apenas ao meu lado e deixamos o meu silêncio conversar com o seu.
A gente nunca precisou mesmo de palavras.

Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis.
Remexi o cérebro e elas vieram, não raras, mas toneladas!
Deixaram um gosto de poeira na boca – a poeira do que se tentava expressar, e elas dissolveram.
Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada.
E todas essas palavras eram uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio.
Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos – com todos esses arrepios estranhos que um reencontro, como o de hoje, provoca na gente.

.

[Mas ela sabia que precisava dele.
Pelo menos naquela noite meio chuvosa e sem grandes esperanças.
Mas tinha medo da compulsão.
De querer ele sempre e sempre e pra sempre.
E amanhã e depois.E de dia, e tarde, de madrugada
De novo.
E não saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal.
Só mais um pouquinho, pensou.
Uma lasquinha. Pra dormir feliz.
(Amanhã era amanhã. Depois ela resolvia…)
Mas abriu a porta e preferiu chorar sozinha ao travesseiro. ]

*

quinta-feira, 6 de maio de 2010

.:. E de agora em diante...

[Continuará escolhendo o desafio da entrega]


.


Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar...

Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência ...

Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar...

-TOM ZÉ-





[Em dias de tanto trabalho...dia cheio e coração vazio,vi-me como todo mundo:
Habituando-me, a contar o tempo como se fosse uma linha reta na qual caminhávamos para a frente...
E o passado ficando para trás, como uma perda irrecuperável.
Não havia descoberto ainda que o tempo é composto de círculos interligados dentro dos quais giramos...
E que ainda não nos foi dada o dom de perder nada...
de abandonar nada...
[e que isso pode ser tanto uma vitória quanto uma maldição.]
*