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Passou pelas minhas curvas sem pedir licença.
Tinha vontade de dizer um pare.
Antes já me olhavas...mas só agora deixei-me olhar por inteira.
Só que vc não notou...
A vaidade sussurrava em seus ouvidos: “vem, vem olhar, vem desejar o que fingias não ver”.
Não adiantava, não enxergava nada além do que queria ou o que julgava saber.
Olhava-me nos olhos, olhar profundo, selvagem...mas de mim só sabias o que eu permitias.
Descobri seu segredo: não queria despertar a sua fera ali.
E sorria inocentemente, mexendo nos meus cabelos, livrando-me de sua visão tão pessoal e particular.
Enquanto se deixava tocar por outra, na sua forma leviana de viver, fui esquecendo pouco a pouco aqueles olhos de descaso e me aprofundava em outros casos, talvez tentando me deixar ser inteira...como vc não viu.
Inteiramente todos os pedaços de mim uma hora se unirão...um a um, sem julgamentos, sem fingimento.
Assim como você não quis.
Podias me sentir agora se quiser e ver que sou muito mais do que era antes.Mesmo que talvez o antes nunca tenha existido,ou não te importe,se for o caso.
Passou pelas minhas curvas mesmo sem me tocar...e mais uma vez sem pedir licença,me tomou inteira.
Em seus olhos estavam o ciúme do tocar dos outros ,mas a fera não havia acordado.
A selvageria não me assustaria, o meu doar era o mesmo, apenas com o gosto à mais daquele pecado consumado que me satisfazia.
Com sua mão em minha barriga, seu sorriso brilhava reluzente, enquanto eu acendia um cigarro. Dessa vez era eu que sorria e nada inocentemente.
Já atreveu-se a dizer-me que não me tocara antes, pois não estava preparado para a sua fera e, que não saberia domá-la sem enjaulá-la.
Fitei-o carinhosamente e beijei-lhe sua testa, adormeceu.
Note-me, enxergue-me, devore-me.
Pobre homem, mal ele sabia que na verdade era ele que nunca esteve preparado para uma mulher como eu, porque ao contrário dele a minha fera nunca havia sido domada.
Dome-me, se puder.
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[É que me deu um medo de me espalhar pelo mundo e nunca mais ser tua...]
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