" Impressiona-me a capacidade que tenho de me encaixar perfeitamente no teu abraço... É como se ele fosse anatomicamente desenhado para me abrigar, para me acolher. E acolhe. Esqueço da vida, esqueço o cansaço, esqueço do mundo quando me encaixo em você.Nada me atinge.Nada me preocupa.Nada. Somos somente eu e você. Encaixados. Grudados. E nada mais. Simples. Deliciosamente simples. E adoravelmente impressionante..."
[Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado.
(...) ' E, ainda assim, estarei sempre pronta para esquecer aqueles que me conduziram a um abismo... E mais uma vez amarei. E mais uma vez pensarei que nunca amei tanto em toda a minha vida...'
Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.
"É só medo.
Só por isso você ainda está aí,parada, medindo, somando, procurando...evitando.
Levanta desse chão frio e engole esse choro.
Chegou a hora de entender: essa sua vida não tem asas, tem apenas peso.
As asas quem tem é a tua alma que provavelmente deve estar sucumbida dentro de você.
Deixa tua alma livre e liberte-se também,minha amiga.
E, por favor, não venha mais me dizer que chegou àquele ponto em que a vontade de acreditar é a própria desgraça, pois eu sei que suas construções são bem mais sólidas que isso e tenho certeza de que ainda não conseguiu chegar aos limites da sua própria fé.
Conheço seu jeito acanhado de renunciar, mas conheço mais ainda teu jeito descarado de abraçar suas escolhas e protegê-las dos imprevistos violentos que às vezes cruzam teus caminhos.
Eu agora te digo com essas palavras emprestadas - pois não tenho a pretensão de alguém que diz construir palavras - que amanhã teu hoje será perdido e você precisa decidir de que forma perdê-lo.
Então escuta quando o Camelo diz para que "cuide do teu e ninguém te jogue no chão". Ouve o vento conversando com você e aprende a contar-lhe histórias também.
Molda um dia novo e desenha-se dentro dele, usufruindo de seus ares, suas cores, seus sabores e seus amores, que amanhã é a sua chance.
Rasga com os olhos, lúcidos e cheios de alento, o véu do dia e corre, corre até seus pulmões implorarem para que pare, até seu corpo pedir com força .
Alcança logo essa sua pobre alma e - te alcança também- lhe dê,enfim, a tão aspirada liberdade ousada de alma."
.
[É esse o seu sorriso que eu quero.
Esses mesmo de 10 anos atras.
Eu não tenho todas as respostas pra sua vida,minha amiga.
Mas continuarei ao teu lado,desvendando as perguntas...
...que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. que sejam doce os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira - quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doce suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão. Que seja doce. que sejamos doce..
C.F.A.
["Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim,
numa existência superiormente interessante:
Onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..." ]
Naquela manhã dei o teu nome ao dia.
Te concedi todas as minhas horas e sentimos a música ligada.
Afinal, tu mereces tudo isso.
Hoje prometo que as noites tb serão só tuas...
Hoje nos sinto entre palavras e silêncios, entre o que me dou e onde me permites chegar.
Vem que te prometo que vou apurar os meus sentidos.
Vem...que eu deixo a tua música ligada para que te sintas mais perto.
E até te prometo mais do que esta noite.
Deixa-me ser um pouco mais nós...
Vai que eu vou atras,sem largar as nossas mãos.
O teu corpo perto do meu, as palavras que me beijam antes que o faças, o teu olhar perdido no meu.
E mesmo se um dia a música terminar...E nós, tal como ela,guardarei-nos em mim...
E que essa seja a imagem que os nossos olhos guardem antes de nos fecharmos.
Que sejam tuas as minhas palavras murmuradas. Porque foi nessa manhã que amanheci em teus braços.
.
[Naquela manhã, o Sol veio nos dar bom dia.
E nem precisava ser registrado para nunca ser esquecido.]
Se ela começasse escrever a sua história,seria assim: ...
Percebes? Ela sabe que sim.
Ela é reticências.Três pontinhos. É o não-dito.A emoção e desejo. Palavras são o seu antídoto. Anti-monotonia, anti mau-humor, anti todo o amor que não há.
Acredita que é possível acariciar pessoas com palavras. Por isso, desatina...
E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia ,era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo.
Dormiam juntos, porque era bom para um e para outro estarem assim juntos, naquele outro espaço. Não vinha nada de fora, nem ninguém. Deitada nua no ombro também nu dele, não havia fatos. Dormiam juntos, apenas. Isso era limpo e nítido naquela noite.
Como um astronauta prestes a desembarcar veria a face da lua, mal reconhecendo o Mar da Serenidade perdido em poeira cinza, assim ela o via naquela proximidade excessiva, quase inumana de tão próxima. Fechasse os olhos — mas não os fecharia, pois já estava dormindo.
E de olhos abertos, embora fechados, pois sonhava, protegia-o, protegiam- se no meio da noite. Tão simples, tão claro. E de alguma forma inequívoca, para sempre.
Talvez ele tivesse passado um dos braços em torno da cintura dela, quem sabe ela houvesse deitado uma das mãos sobre o ombro dele, erguendo os dedos até que tocassem no lóbulo de sua orelha. Em todos os dias que se seguiram à noite daquele sonho, e foram muitos, honestamente não saberia localizar outros detalhes. Pois enquanto dormia, naquela noite, tudo era só e apenasmente isso: dormiam juntos.
No centro da noite, no meio do sonho, no outro espaço.
Não se preocupe,minha amiga. Sabemos que o caminho é l o n g o, mas também é cheio de novas manhãs. A gente e s t i c a, arrisca, esmudesce,cresce ...e doi. Eu sei que doi.
Respira fundo minha amiga...inspira... Porque é no anoitecer que repousa, em sonhos, a vontade de tudo que se espera amanhecer.
É o novo começando, ou recomeçando, tanto faz.
(Depende sempre da maneira que se abre as janelas...e que se foca os olhos.)
[Das perguntas que não calam...e gritam:
"Como curar uma dor que não é sua?"
Te desejo uma força que não cabe imaginar e uma fé que move.]
Estarei sempre ao seu lado.Basta você fechar os olhos...
Parado ali no chão, eu sentia que dentro de mim alguma coisa estava nascendo.Ou pressagiava o que viria também de fora e seria completo, pois são completas as coisas quando acontecem depois de anunciadas por dentro, criando um estado capaz de receber o que virá de fora.
C.F.A.
.
Escolheu o sorriso que mais combinava e brindou: que a gente saiba sempre voar por cima. Porque mudar o olhar de ângulo renova certezas.
E entrou de novo no compasso que dava ritmo à sua vida. Feito bailarina de caixinha de música: todos os arranjos aproveitavam a corda para acompanhar o tom da música. E fluia...
.
[Fez um colar de pequenas coragens e pra cada conta repetia: É preciso sentir desmedidamente as pequenas coisas...]
Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada...
-C.F.A.-
[Sim...foi mágico.
Um tanto que intenso e sutil em sua leveza
(...)
Talvez seja a hora de acreditar que aquilo que sentiu foi unilateral.
"Não me voltes a oferecer rosas , pois acabo sempre por me ferir nos espinhos que me invadem a pele e se disfarçam na perfeita convenção que chamam de amor. Não me voltes a oferecer rosas, porque as tuas são cercadas de arame farpado e tu insiste em regar o pé da roseira com o sangue que brota das minhas feridas.
Não me voltes a oferecer rosas embrulhadas em sorrisos venenosos e falsas entregas... Eu nem sequer gosto de rosas amarelas, estranho não é? Logo eu que tenho o vermelho como cor preferida. Não me dê nem rosas vermelhas, oferece-me antes uma rosa negra, esse negro aveludado da cor das sombras.
Vou surpreender-te e da próxima vez...e serei eu a oferecer-te flores,. Vou entrar no teu jogo e vou oferecer-te uma rosa tatuada de intenções.E quando for a tua vez de sangrar, arrancarei as pétalas uma a uma e vou disfarçar um sorriso vitorioso quando os meus espinhos rasgarem a tua pele. "
.
[Sempre gostaste de rosas,
porque não aproveitar-me das tuas fraquezas? As regras acabaram de se tornar iguais.
Na verdade,sinto é a falta do mistério de amar a última pessoa que eu amaria no mundo...]
Por um instante quis sentir falta de alguém, mas não consegui me lembrar de ninguém. Por outro instante quis inventar uma pessoa, mas eu era tão de verdade naquele momento que me faltou capacidade para ser enganada. Na noite mais romântica do mundo amei meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas próximas horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades, meu silêncio, a extensão do meu pânico curioso que iluminava toda a cidade, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha cabeça. Sim, a garotinha independente, magrinha,branquelinha, assustada, sensível, cheia de planos, cheias de erros e cheia de si, agora apenas recomeçava no corpo de uma mulher invisível.
[Amei que o mundo estava em festa e meu convite dava direito apenas a uma pessoa...]
. Houve dias em que eu quis controlar o relógio, mil vezes por minuto...só pra não te ver partindo...ou então pra correr e levantar para abrir a porta. E para que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto, para baixo ou para cima, não sei...
Houve um tempo,em que havia um tempo alegre em te esperar.
Pensava sempre que um dia a gente ia se encontrar de novo, e que então tudo ia ser mais claro, que não iria mais haver medo nem coisas falsas... Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez ainda de serem compreendidas - se um dia a gente se encontrasse de novo, pensava que eu falaria delas, mas agora já não será preciso.
Às vezes, quando ainda valia a pena, eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes. E ficava pensando às vezes como deveria ser bom ligar e dizer "aconteceu algo terrível, sinto que não vou suportar" e ouvir: "senta e me espera, to indo agora pegar um avião pra te ver".
Houve uma época que eu pensei que eu te conhecia mais do que qualquer pessoa que havia passado em sua vida.
Houve tempos em que eu acreditei que em mim sempre haveria os teus passos, e que essas cicatrizes eram pra comprovar que o que houve entre nós, era atemporal e onipresente.
E você era quem dizia que eu era tão livre, tão acima do chão. Tão acima da sua cabeça. Mas é você quem continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo você levar partes de mim que agora eu nem sinto mais falta. E você continua escrevendo sua história...pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos.
E eu pensava que alguns sentimentos poderiam ser imperecíveis...
Até vc me ligar ontem e nem sequer reconhecer a sua voz.Para perceber que tinha terminado, então.
[Porque a gente, alguma coisa dentro da gente,
sempre sabe exatamente quando termina -
ela repetiu olhando-se bem nos olhos em frente ao espelho. ]
Eu fui te buscar no mais profundo do meu corpo. Te amei antes e já não te amo agora que já não me sei mais. Inda outro dia olhei nos teus olhos e só vi a minha imensa dor, que não era mais minha."
(...)
Neste mundo de agonias há quem viva de ilusões. Com sorrisos de alegria, com alma aos turbilhões. Faz pouco da realidade que é triste pra quem vive assim. E pensa que a felicidade se consegue pra sempre, sem fim.
Eu sei que nesse universo todo há as aparências.E são elas as que mais confundem...mais simulam. E agora voltei pra casa confusa.Com você na minha cabeça e apenas teu nome eu sei. Quando o quis tê-lo nas minhas mãos, pensei que vc desejaria está em outra. E quando eu estava em outras mãos, soube que era você quem estava nas minhas. Mas elas estavam atadas.E eu queria as tuas. Nas minhas mãos desorientadas que não te perceberam...estas mesmas mãos que você enxergou e eu apenas tropecei em mim mesma deixando-te ir embora. São essas mãos que voltaram pra casa com outro cheiro,mas desejando que fosse o teu.Com essa mão eu tapei a cara pra não me ver borrada ao espelho do banheiro,escutando ainda a tua voz dizendo: “era você quem eu queria pra mim”. São essas mesma mãos que vos escreve agora.Essas mesma mãos que descobriu teu número e discou sem ensaiar nada pra te dizer...(e o que eu diria,Deus meu?) Essas mãos calejadas que agiram feito uma adolescente...com pressa,descuido e desatenção. Essas mãos que irão dormir hoje feito ontem...com essa vontade...com essa curiosidade de sentir as tuas bem próximas as minhas ...sem esse medo infantil de ter pequenas coragens. Apenas com esse medo de ferir tocando...e tateando agora antes de ter.
. “Quando eu olhar a noite enorme do Equador,
pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida. -E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu,
seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(Silêncio)
-Mas não seria natural. -Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. -Natural é encontrar. Natural é perder.”
Sem explicação, ordem e motivo, me arde uma alegria, que não aceita ser felicidade, porque a felicidade é uma palavra muito longa e a alegria tem pressa. Não sei se é uma alegria herdada, uma alegria que esbarrou em mim e que me salvou de ter pensado demais para devolvê-la. Uma alegria que é muscular, como se o ar fosse uma guitarra encordoando o ar, e houvesse um amor me pedindo para falar baixo nos ouvidos ou uma criança me chamando pelo apelido.
Uma alegria sem dono.A não ser, eu mesma. Uma alegria de deitar na grama e sentir que está molhada e não se importar com a roupa suja e não se importar com a hora e com os modos, uma alegria que é inocência, mas sem culpa para acabá-la. Uma alegria que é descobrir os objetos no escuro. Uma alegria repentina, que me faz entortar o rosto para rir, que não me faz pôr a mão na boca com medo dos dentes, que me impede de me proteger. Uma alegria de ficar como os anjos e suas asas pesadas como duas montanhas nas costas...Uma alegria de barca, que é empurrada ao seu início. Uma alegria de perceber que quanto mais gasto o tempo com os outros mais sobra para mim. Alegria de vida barata e da morte cara. Uma alegria sem saber para que serve, para onde vai... Uma alegria que não volta para a estante porque não saiu de nenhum livro lido. Uma alegria que se antecipa e faz sala ao quarto. E quase me faz acreditar que sou possível.
["Porque hoje eu vou fazer, ao meu jeito eu vou fazer...
-" Então, minha querida Amélie, não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus."
(Amelie e o homem de vidro num trecho de O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAN-
E mesmo não querendo,devendo não querer,não sabendo... Sentou ao meu lado e mesmo sem querer,sem saber, com palavras, nos falamos um pouco um para o outro, assim mesmo. Os nossos olhos se encontraram mais uma vez até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor...sem rancor.
Sentou-se apenas ao meu lado e deixamos o meu silêncio conversar com o seu. A gente nunca precisou mesmo de palavras.
Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexi o cérebro e elas vieram, não raras, mas toneladas! Deixaram um gosto de poeira na boca – a poeira do que se tentava expressar, e elas dissolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. E todas essas palavras eram uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio. Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos – com todos esses arrepios estranhos que um reencontro, como o de hoje, provoca na gente.
.
[Mas ela sabia que precisava dele.
Pelo menos naquela noite meio chuvosa e sem grandes esperanças. Mas tinha medo da compulsão. De querer ele sempre e sempre e pra sempre.
E amanhã e depois.E de dia, e tarde, de madrugada
De novo. E não saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal. Só mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz.
(Amanhã era amanhã. Depois ela resolvia…)
Mas abriu a porta e preferiu chorar sozinha ao travesseiro. ]
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele E nesse tráfego acelero o que posso. Acho que não ultrapasso e quando o faço, nem noto.
O farol fecha... Outras flores e carros surgem em meu retrovisor.
Retrovisor é passado É de vez em quando... do meu lado Nunca é na frente . É o segundo mais tarde... próximo... seguinte É o que passou e muitas vezes ninguém viu...
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu O que agora só ficou no pensamento.
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento... Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas...
Deixa explícito que se vou pra frente, Coisas ficam para trás .
A gente só nunca sabe... que coisas são essas.
-O TEATRO MÁGICO-
[Muitas...muitas coisas foram preciso ser deixada pra tras...]
. . Naquela sala...onde havia um tapete sobre o qual pousavas os pés descalços... Na minha sala(onde mais parecia nossa), as paredes beges contrastavam com o marrom do tapete e o verde das almofadas que geometricamente eu tentava arrumar e a mesa de vidro...afinal sempre gostei de (alguma) transparência.
Nessa sala, as frestas de luz iluminavam as sombras do que sentias e as páginas dos livros que folheavas. Na minha sala imaculadamente limpa, os copos não podiam ser pousados em qualquer lugar, as manchas eram inadmissíveis e o pó um visitante desconfortável e indesejado.
Nesse lugar onde vivias, todas as tuas pequenas imperfeições não podiam ser vistas, todas elas moravam debaixo do tapete, o espaço para onde eu varrias para que não ficassem à vista e violassem a absoluta quietude e perfeição do nosso espaço.
Debaixo do conforto superficial do tapete que nunca foi como o tapete da entrada onde toda a gente limpava os pés da sujeira acumulada.
Apenas fingias esquecer-me de uma coisa... a tua dualidade sempre se sentou ao teu lado na sala...e por você eu sempre quis ignorar que todos os tapetes precisam ser sacudidos e se não o fizer, alguém acabará por fazê-lo e tudo o que eu varria para lá, o tornaria tão sujo como o da entrada.
Sei que vivias na minha casa e nunca alguém antes compartilhava tanto o meu espaço comigo.Tinhas as chaves da porta e que tomaste lugar em cada pedaço do meu lar.
Foste tu,que dia a dia foi conhecendo todas as divisões e te tornaste tão familiar como a disposição dos sentimentos e os contrastes gritantes das cores. Da minha parte sempre preferi a geometria das mobílias e os tons quentes da minha intensidade, do teu lado havia a tranquilidade das cores e a contenção.
Pouco a pouco foste encontrando lugar em mim e marcaste presença com as tuas chaves perdidas com displicência e as cinzas dos cigarros abandonados nos cinzeiros. Abrias as minhas janelas de par em par para arejar as divisões da saturação dos cheiros antigos, talvez porque ao abri-las estivesses a abrir também as tuas. Havia encontro e aquele espaço também te pertencia.
Não sei há quanto tempo deixaste de morar em mim como moravas, nem tão pouco sei se o saberás. Há quanto tempo deixei de morar em ti? São respostas que não queremos obter, mais por medo, culpa, orgulho, raiva ou perda. Porque é o medo e a raiva que (ainda) nos aproximam, estranha ligação esta, que tão pouco sobrou do que um dia nos uniu.
As perguntas são reticências e incertezas e as respostas são definitivas, pontos finais e constatações. Já há tanto tempo que não abro as janelas, já há tanto tempo que não encaixoto as coisas e mudo as mobílias de lugar. Mas ainda há tanto por arrumar...e nós vamos adiando enquanto esta espera se arraste e (me) consome e percebo que você na verdade,nunca pertenceu realmente a esta casa.
Fechei a porta com estrondo e joguei fora tuas chaves... E desde então que foste embora,como se fosse vc quem tivesse me abandonado...o espaços que ocupavas, está para alugar...
.
["E se você sentir saudades,por favor não dê na vista..."]
O que há em mim é sobretudo cansaço — Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém, Essas coisas todas — Essas e o que falta nelas eternamente —; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada — Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...
E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimno, íssimo, íssimo, Cansaço...
-Álvaro de Campos-
.
[Cansaço de até perder tempo imaginando o que se
passa no coração das pessoas. Vontade de tomar um uísque num bar em qualquer
. Covarde!E isso tudo não passa de uma grande covardia.
Todo esse medo, toda essa luta vã de esconder-se, enquanto procura o que não existe naquilo que imagina já ter encontrado. É uma grande covardia correr em círculos naquilo que já conhece, no que não há saída, tampouco direção.
É algo covarde apostar em perder algo que já o teve, por julgar conhecer a dor, por acreditar que se supera mais fácil perder o que já foi perdido, acreditar que "fazer o certo" agora seja uma maneira de se apagar cicatrizes incuráveis...que se ameniza uma dor...que se apaga o arrependimento.
É mais covarde ainda escolher a dedo um coração fechado, procurar no pior motivos para não sentir a culpa da incapacidade de acreditar no amor, de imaginar que sofre menos quando se fizer acreditar que foi perdido, e não, que o perdeu.
Uma grande covardia é mentir a si mesmo e acreditar que não mereça algo melhor, que não se é capaz de corresponder a algo verdadeiro.
Pensar que todas as pessoas são covardemente iguais, que tudo se resume a um estúpido ciclo doentio, com as mesmas dores.
É a covardia mais estúpida privar um sentimento pensando em sofrimento, mentido a si mesmo, já sofrendo por não conseguir esconder-se dele, encontrando-se sem coragem de encará-lo.
É uma grande hipocrisia condenar-se a ser sozinho de mãos dadas com a covardia, olhando-se no espelho repetindo "Oi" a uma estranha.
.
["Favor alguém me dê um coração.
Que esse já não bate nem apanha...
Por favor,uma emoção pequena.
Qualquer coisa que se sinta!
Tem tantos sentimentos,deve tera algum que sirva..."]
. . . Você sempre me disse que sua maior mágoa era o fato de eu já ter vivido tanto e nunca poder viver algo comigo pela primeira vez.
Mas eu nunca tinha escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
Você dizia que sempre foi aquele que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado.
Você sempre foi o único amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando chegava a madrugada. E o único que sempre entendia também, eu dormir meio chorando nos seus braços (porque é impossível abraçar sequer alguém, o que dirá o mundo.)
Outro dia,vendo as fotos dos meus últimos aniversário,em todos estava vc lá.E na legenda de uma delas,tinha escrito: “Uma presença,um presente...” Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você, eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e dancei com você,passei horas a fio a conversar e rir com vc. Porque você era o meu melhor companheiro de dança, melhor companheiro de tudo e de nada.
Eu não sei porque exatamente você não mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro Cd de Trance. Ou quando me conta aquelas historinhas de crianças para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu ficar mais metade da cidade, você ainda sempre tinha paciência de escutar todas as minhas dores de amor. Ou quando a gente se ligava e passava horas a conversar no telefone coisas que só pra gente fazia sentido.
Também não sei porque eu não escrevi um texto sobre a sua cara emburrada e o olhar atravessado para mim quando eu bebia demais numa festa...e me dizia uma das frases mais linda que eu já ouvi “E mesmo qndo tu não precisar,eu vou está sempre aqui.” Quando eu sai daquela festa chorando,desorientada e te liguei no meio da noite.Vc largou tudo e me pôs em seus braços.Chorei como uma mulher,depois me fez rir feito menina.Ou quando eu adoeci e vc me levou ao hospital,ficou ao meu lado e fez ser um dos sábados a noite mais divertidos que eu já vivi.
Eu devia ter escrito sobre os seus conselhos,quando eu te perguntei se eu deveria ir para aquela cidade,onde fui atrás de um sonho,e vc disse “Tenha calma...não vá agora”...e eu fui! Depois me recebeu de volta com olhos sorrindo,sem nunca me perguntar o que houve...enquanto em meu ser era só dor. Mas você estava ali.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi “me faz companhia para eu dormir” enquanto eu chorava por ter mais uma vez o coração partido. E você fez.
E você me olhava de canto de olho, mesmo quando eu não seguia os seus conselhos. Talvez porque mesmo sabendo que eu não amava você como homem, você continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
E juntos vivemos a metamorfose de um sentimento.Ao ponto de chegarmos a acreditar que poderíamos ser um do outro e mais um pouco.E ainda assim...nem sequer algumas palavras a ti.
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia em que te xinguei até desopilar todos os cantos do meu fígado. Eu fiquei numa tristeza absurda,mas depois entendi que nunca te pedia nada...mas esperava tudo de você. E fiquei feliz.
Hoje eu queria ter vontade de nos xingar quanto pudéssemos ouvir, desde que isso signifique o amor que tínhamos por nós e a gente consiga escutar os ar que saía dos nossos pulmões...e saber que ainda há resquícios de nós dois.
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade era você. Quando a gente voltou de uma certa viagem e eu berrava Strokes no carro,quando a gente coloca o Trance alto no carro.Qndo outra viagem paramos numa estrada linda e ficamos um tempão a observá-la...e sorrimos agradecendo por ta vivendo aquilo. (Nosso Universo paralelo lembra?) Tudo é você. Quando a gente dançava no quarto ou adormecia no tapete. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Quando vc chegava no meio da noite ,no meio do dia...no meio da tarde.Qndo pulava o meu muro pra me fazer surpresa... Tudo é você. Eu sou mais você do que fui qualquer pessoa que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo,e eu sempre te falava isso... E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você. Até hoje. Até aquela manhã. Em que você, pela primeira vez, quase foi embora.Com minha despedida nada ensaida e frases não-feitas,quase foi embora... Deixando apenas uma vontade não concebida de tantas coisas que eu deveria te falar. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que eu simplesmente quase fui embora. Como se vc fosse só mais uma coisa da minha vida cheia de coisas que não são tão minhas,e que eu uso para não sentir dor ou saudade.
Foi a primeira vez que eu parei de te ver e te enxerguei. Ofuscando o teu brilho em mim refletido na minha cara borrada. Foi a primeira vez que eu dei as costas a você. A primeira de tantas...de tantas que vieram...
(e tantas que virão)
.
["Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido."]